Hoje estava desfolhando uma bacia de Picão Preto. Sim, Picão Preto, aquele que tem uns espetinhos mal vistos que ficam grudados na nossa roupa ou pinicam as pernas. Fui na contra-mão e me embretei num mato de Picão Preto. (peguei a dica no blog come-se)
Então, enquanto desfolhava as
tenras folhas, me ocorreu uma pergunta que pode ser feita para
qualquer pessoa que se aventure na cozinha: você define o cardápio
que vai cozinhar e vai em busca dos ingredientes ou verificando os
ingredientes disponíveis no mercado (ou até mesmo nas prateleiras
da despensa) define o cardápio?
De onde eu vejo, e
deixo claro que é uma visão pessoal e parcial, ter uma cozinha
sustentável está diretamente ligado à resposta desta pergunta.
Cada vez que penso/crio
o cardápio do Daqui (e para quem não sabe o que é o Daqui, visite
nosso blog neste link), ele leva em conta o que tenho disponível no
sítio, depois nos vizinhos, depois na feira e assim por diante. Tudo
o mais próximo possível. Quem manda nesta cozinha são os
ingredientes.
Esta semana surgiu aqui
em casa um bate papo despretensioso sobre ser ou não ser um chef de
cozinha. Isso porque eu afirmo que não me considero uma chef de
cozinha. Posso discorrer sobre a nossa conversa, mas ela segue
caminhos que podem me levar para longe do tema central. Meu
interlocutor fez a derradeira colocação: “mas tu és chef da tua
cozinha, da cozinha do Daqui”.
Negativo!
Nã, nã, ni, nã, nã.
Injustiça absoluta com quem reina por aqui. Injustiça com os
ingredientes. Aqui eles mandam. Os ingredientes que estão mais
frescos, mais abundantes, mais salientes entram em cena e comandam o
espetáculo.
Na próxima edição do
Daqui teremos o Picão Preto que acabei de colher, o tomate que o
Deva colherá esta semana, o feijão branco recém-colhido, bem
novinho que comprei na feira, o butiá, a geléia de pêra que fiz
mês passado, a folha de vinagreira que comprei do Dodô. Como posso
me atrever a dizer que sou a chefe. Acho que estou mais para
utensilio... E você?
E deixo claro meu respeito por todos os Chefs de cozinha que fazem verdadeiras mágicas com os chefes ingredientes. Uso a brincadeira apenas para um leve cutucar em todos os que se aventuram nesta arte. Um convite para um olhar um pouco mais atento ao que a terra dá o mais próximo e fácil de onde cada um está. Um viva para o Picão Preto!