A vida aqui no Arupa é cheia de ondas, me dá a certeza de que moro no oceano.
No ano passado quase me afoguei com as ondas de leite que chegavam todo o dia na cozinha. Hoje, as ondas de tomates e cebolas estão me dando bons caldos e molhos também (ainda bem). Tudo isso para justificar minha ausência aqui no blog.
Volto por um motivo de força maior. Tenho um montão de coisas para cozinhar, pois no sábado teremos um evento aqui (veja aqui). Porém, estou impossibilitada - desde às 9h estamos sem água.
Neste ano de 2011, a água foi um personagem marcante por aqui. Tivemos um inverno chuvoso e úmido e estamos entrando em um verão seco, bem seco. Eu não sei se estes fatos estão relacionados com as mudanças climáticas, com o efeito estufa, com o carbono em excesso... e nem vou entrar nesses méritos.
Mas uma coisa tem me cutucado cada vez mais. O manejo inteligente e local dos recursos é indispensável. Escrevi, recentemente, o texto sobre Fernando de Noronha (veja aqui). Estou sentindo Arupa um pouco como Fernando de Noronha. Se a seca continuar teremos que usar água da CORSAN para dar de beber para a Ming Ao. Isso me causa desconforto! Usar na casa já é estranho, o que dizer de usar na horta e jardim... E o leite da Ming Ao vai diminuindo, o pasto secando e a comida dela rareando...
Por outro lado, estou tendo que fazer conserva com toda a onda de cebolas que invadiu a cozinha. Pois, com o inverno chuvoso, as cebolas pegaram muita umidade e agora estão apodrecendo.
Como os produtores lidam com tantos imprevistos? Como o imprevistos são computados no custo da produção? Será que há profissão com mais risco do que a de produtor agrícola? Se eu fosse fazer um estudo de viabilidade econômica de um projeto de produção agrícola, definitivamente o percentual de riscos seria altíssimo. É um projeto que, literalmente, está a mercê de intempéries. Você já havia pensado nisso?
Há que ter coragem! Há que ser empreendedor! Há que ser valorizado!
Água, água, bem de todos. Falam em escassez dela. Mas, de onde olho, a escassez não é de água e sim de inteligência humana. Precisamos de melhores manejos, precisamos de fluxos mais inteligentes, precisamos sair da zona de conforto da torneira e lidar com a possibilidade de criar soluções locais e circulares. Caminhar sobre o pasto seco estalando sob os pés gera um enorme desconforto. Entrar em casa e ligar a torneira... alívio! Acabando a água da torneira sou obrigada a pensar no estalar do pasto e vem a pergunta: porque não fizemos a cisterna durante o inverno? Era tanta chuva que pensar em armazenar água parecia uma bobagem. Como sempre, apenas parecia ser.
Aqui no Arupa os ciclos ficam mais evidentes, como em Fernando de Noronha. Lanço o convite para que você olhe para os ciclos de água que fazem parte da sua vida e responda as seguintes perguntas:
- Realmente há escassez de água?
- O fluxos de água na sua vida são lineares ou circulares?
- Há escassez de inteligência?
Compartilho uma foto tirada agora mesmo. Deixamos a grama de lado. Priorizamos a área de produção e os menos dependentes de água. Talvez, depois dessa seca, o jardim no entorno da casa, definitivamente, deixe de ser um gramado. E passe a ser espontâneo trazendo nova estética para a casa, corroborando com o que escrevi no texto "A estética dos jardins: o conceito de estética vai mudando, pelo menos o meu"
3 comentários:
Muito bom seu post...
Sou filha de colonos e sempre lembro da apreensão de toda família quando meu pai saia pelo páteo para "olhar o tempo"...Seca ou muita chuva são preocupações constantes de quem planta a nossa comida...Nas cidades as pessoas acham ruim quando a alface do mercado esta pequena demais, ou o brócolis está com manchas...
A terra e quem a cultiva precisam de voz!
Maristela
Seja muito bem vinda ao Blog. Muito bom ouvir tua voz traduzindo a voz de quem cultiva. É isso aí, devagarinho vamos abrindo o espaço.
Beijos
Vc é do sul? Pq geralmente quem sofre bastante com essas variações bruscas é de lá.
Mas enfim, a natureza sempre faz sua parte, o resto cabe a nós solucionar, como sempre foi.
Engraçado discutir isso num país que tem possivelmente a maior e melhor rede de agua.
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