Hoje eu conversei ao telefone com uma tia para pedir a receita do figo em calda que muito comi na casa dela. Este telefonema, associado ao fim de ano, me trouxe algumas lembranças tão doces como o próprio figo em calda...
Por mais que me doa dizer, eu não sou gaúcha de nascimento, e morei fora de Porto Alegre até os meus sete anos de idade. Neste período, quando o ano escolar acabava, meus pais partiam rumo ao sul. Era uma aventura e tanto: duas das filhas (somos em 04) vinham de carro com eles em uma viagem de uns 02 ou 03 dias (parecia uma eternidade) e as outras duas eram "despachadas" de avião e "retiradas" no aeroporto por algum membro da família (acho que era minha avó ou meu padrinho, não tenho certeza, alguma alma caridosa!).
Passávamos boa parte das férias em uma chácara na zona sul de Porto Alegre, com tios, avós e muitos primos e primas! A ‘Chácara’, como todos chamavam carinhosamente, era um sonho de lugar! A casa era super antiga, com o pé direito muito alto, aberturas pesadas e grandes, fiação elétrica externa, quartos que mais pareciam dormitórios coletivos, uma cozinha sempre funcionando e um único banheiro (posteriormente fizeram outro). O banheiro não era exatamente um banheiro, era um salão de banho, com uma enorme banheira onde o banho da criançada, na maioria das vezes, era coletivo... o piso, ah, o piso! Nossa, como me lembro dos tipos de madeiras e ladrilhos hidráulicos que compunham o mosaico da casa... a varanda tinha o mais lindo! Em todos os verões, tirávamos o limo da varanda com sabão em pó e nossas bundas, era um tal de escorrega pra cá e escorrega pra lá que hoje já não tenho muita certeza se limpávamos ou sujávamos... A casa tinha um lugar espetacular para qualquer imaginação fértil: o porão! O porão era pouco iluminado e abrigava algumas coisas que até hoje me assombram as lembranças. Delas, lembro-me bem do berço de palha branco, teria ele saído de um filme de terror?
A área verde em torno da casa me parecia enorme, tal e qual a floresta amazônica, muitos bichos deviam morar por lá! Tinha uma casa abandonada na entrada da chácara (acho que era um antigo canil) que certa vez nos deixaram reformar para que fizéssemos o nosso QG! O QG nunca saiu, mas a reforma levou um verão inteiro! Era uma festa, éramos 11 crianças brincando soltas os dias inteiros (às vezes éramos 13), e olha que eu era a mais nova de todos o que por si só já traz um bocado de emoções... a não ser que resolvessem me poupar e me deixar de “café-com-leite”* nas confusões, o que acontecia sob muito protesto de minha parte!
Os natais aconteciam nesta casa. A sala de estar ficava interditada assim que começava a montagem da árvore de natal até a noite do dia 24, era proibido para qualquer criança ver a árvore antes da noite de natal. Ainda guardo na lembrança a árvore de natal da chácara como a maior que vi na minha vida, até mesmo maior que as dos shoppings (proporcionalmente deveria ser). Tenho a vaga lembrança de ver a árvore caindo certa feita, acho que foi em decorrência da tentativa de burlar a regra de proibição, os primos mais velhos devem lembrar-se disso muito bem. Eram muitos os personagens que faziam estes natais e estes verões, tinham as primas mais novas da minha mãe que, como primas jovens, porém bem mais velhas que nós, eram exemplos que queríamos seguir (acho que elas nem sabem disso). Tinha o padre João que vinha sempre rezar a missa aos domingos, e filar um jantar, obviamente. Tinha o milk shake do café da manhã... o sorvete de creme da Gessa... as rodadas de dorminhoco... os jogos de futebol... o pega-pega na casa no escuro, sem os adultos saberem...
Tenho certeza que muito dos traços que tenho hoje vêm desta época. Aprendi nesta chácara a diferença entre animal doméstico e animal de produção, pois comíamos as galinhas criadas lá mesmo e isso era bem natural. Foi lá também o primeiro parto que vi e pude ajudar, foi da cadela cocker da família.
Não colocarei nomes no texto para não correr o risco de ser injusta com os personagens que percorrem minhas lembranças, são tantos. Pensei em agradecer aos anfitriões destas passagens, mas sinto que a gratidão é de e para todos!
E tudo isso surgiu através de uma receita de figo em calda! Amanhã mesmo farei o figo e, desta forma, manterei mais uma das tradições da família em família! Devagarinho elas vão aparecendo...
*Café-com-leite – era a criança mais nova que parecia estar na brincadeira, mas não estava.
7 comentários:
Paula, querida "café com leite" e "corinho" pros íntimos!!!
Amei o texto!
Obrigada pelas lembranças!
Contribuo com mais algumas:
- autorama com os meninos
- futebol de meninos e meninas... eu era zagueira!
- canastra com muuuuitos baralhos
- noites em claro jogando "escova" e "7 e meio"
- morcegos do porão!
- dias inteiros de maiô (rsrsrs) e pé no chão
- banho de rio - com colchão!
- "despachos" do pessoal de branco - macumba! hahaha
- aniversários de futebol - com bolo de fut
- ahhh o banheiro... como era lindo!
- uma das últimas lembranças: aulas de wind com o "tio Cesar" rsrsrsrs
- sinto os perfumes, os aromas, a luz... a energia daquele lugar mágico!
Um beijão
Clau
Paula!!
Foi uma época maravilhosa!
Também lembro com muito carinho!
Lindo texto!!!
O pior de tudo foi ver o condomínio que fizerma no local...fiquei muito triste...não sobrou nada para contar a história...nenhuma árvore.
Bjs
Zelinha
Zelinha e Clau (na ordem de idade!)
Pois é, vcs estavam na outra ponta da fila indiana... rsrsrs Boas lembranças!
Clau, gracias pelos complementos!
Zelinha, o que sobrou está nas nossas memórias... celulares, inclusive! Triste mesmo não ter mais nada por lá.
Bjus queridas
Paulinha,
O que sobrou também está em algumas fotos antigas que vou procurar. Dos meus aniversários sei que tenho!!
Clau - contribuindo mais um pouco...
- Corridas de bicicleta
- skate ou patinhs no campinho concretado
- corridas em volta da casa
- Loló (feliz aniv) andando de bicicleta e chutando a bola
- Loló empacado e passando a noite na sala
- O nome do QG era "Clubinho"
- Passeios de bicicleta pela zona sul
- subir no catavento
- J e F (pra não mencionar nomes) quase atravessando o Guaiba no barquinho laranja com uma bandeira do Grêmio como vela
correr ajoelhao na borda da piscina (da de fibra, não no lava-pé do tanquinho.
Certamente falta muita coisa.
Beijo primas!
Duco
Plicti!!!!
Ameeeeeeeiiiii o texto!!!
Muuuuuiiittttooo obrigada!!!
Lembrei também de outras coisas...
- A corrida de "maratona" em volta da casa, com divisão por equipes e direito à água jogada pela pontezinha
- Os coelhos
- Os banhos de piscina com o barco de fibra virado em cima da cabeça
- Fazer redemoinho na piscina
- Idas à Sociedade de Engenharia
- Pescaria de lambari vom minhoca, com o mesmo barco de fibra
- Os Revell de montar do Duco
- A mesa de sinuca
- Tirar a letra das músicas do Cat Stevens
Aaaaaaaahhhhhh!!!!
Que saudade!!!
Se eu lembrar, mando mais!
Vou mandar teu e-mail pros e-mails dos primos que eu tenho!
Beijos,
Marta
Queridos, todos!! Que bom ler estas complementações... muitas coisas... o forte apache do duco, as baratinhas, ambos montados em pista de areia. Me lembro de ter tido um miquinho também. A quadra concretada foi quadra de volei... muitas coisas. Duco, as fotos são bem vindas, a mãe disse que tem algumas! Temos que fazer este acervo... :)
Bjus pra todos!
Oi Pops,
Muito lindo isso. eu também tenho uma grande nostalgia em relação àquela chácara e àquela época. Como era bom... O tênis que a gente jogava, os churascos feitos pelo Nívio, o gim-teen da tia Lilice.
Bom que colocaste no blog
Beijos, Pai
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