Lendo a revista Spicy (http://www.spicy.com.br/) percebo que me deparo cada vez mais com reportagens sobre o movimento chamado slow food.
“Fundado por Carlo Petrini (Italiano) em 1986, o Slow Food se tornou uma associação internacional sem fins lucrativos em 1989. Atualmente conta com mais de 100.000 membros e tem escritórios na Itália, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido, e apoiadores em 132 países.
O princípio básico do movimento é o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade especial, produzidos de forma que respeite tanto o meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção, os produtores.
O Slow Food opõe-se à tendência de padronização do alimento no Mundo, e defende a necessidade de que os consumidores estejam bem informados, se tornando co-produtores.”
Trecho retirado do site: http://www.slowfoodbrasil.com/content/view/12/28/
Como podemos ver, o slow food no mundo não é novo. Perece-me que aqui em Porto Alegre ele está chegando agora. Isso é válido? Claro que é. Mas me pergunto onde estavam as iniciativas que muito antes de ouvirmos falar em slow food já ficavam buscando seus espaços num mundo onde o baixo preço e a facilidade em comprar ganhava (e ainda ganha) cada vez mais espaço. Honro aqui todos os produtores que se mantiveram na agricultura orgânica (Pé na Terra, Volkmann, Produtores de Ipê, Zona Sul de Porto Alegre, Maquiné, Cooperativa Girassol, entre outros).
Porque então digo que é válido? É válido, pois ele pode levantar, nem que seja através de modismo, questões nunca antes pensadas, tais como: Quais os impactos da agricultura convecional ao meio ambiente? Por que é importante o incentivo da rede local? A que custo consumimos tantos produtos fora de época? Inclusive aprender quais são os produtos da época e ampliar a diversidade do cardápio. Qual a importância de consumir de forma que a bio-diversidade seja incentivada?... Enfim, uma série de questões ambientais, econômicas e sociais que podem ser visitadas através do contato com um evento baseado no slow food. Isso é um começo!
Mas lanço uma questão anterior aqui, o slow food é um evento/momento pontual ou uma filosofia? Ele é moda ou ele é base? Quando compramos uma peça de roupa da moda, ela é evento e passa. Quanto adquirimos algo base na nossa vida, ele fica. Pois é, slow food, tal como foi criado, é filosofia. Mas quem está disposto a encará-lo assim? O que vejo é que os que realmente vivem isso nem chamam de slow food... como no nosso caso.
Escrevo este texto a partir de um local com vista para o campo ao som de um quero-quero. Onde o tempo não é referência, nem slow, nem fast. A referência é a chuva, o sol, o frio, o calor, a estação, a lua. E tampouco é uma filosofia, é a vida acontecendo. Para viver aqui e assim, aparentemente, abro mão de uma série de coisas que o mundo oportuniza, principalmente, itens de consumo. Mas será mesmo?
Estes dias estava tomando um café com uma amiga e ela me falou: para levar uma vida como a tua, teria que abrir mão de confortos que não estou disposta a abrir. Eu perguntei: quais? Ao que ela me respondeu: por exemplo, uma vez por ano viajo para algum lugar do mundo para um hotel 05 estrelas. Com um sorriso nos lábios, eu perguntei: o que este hotel te oferece? Ela respondeu: uma boa cama, um bom banho, uma ótima comida, confortos, coisas novas para ver e fazer. Pois é, minha cama é maravilhosa, meu banho, ao fim de um dia de trabalho manual, não poderia ser mais relaxante, minha comida é um luxo (melhor que muitos hoteis 05 estrelas e mais fresca e orgânica que qualquer lugar que eu conheça), cada dia é uma novidade, cada dia sou surpreendida com o que esta multi-diversidade nesse pequeno espaço cria a cada instante. Sabe qual é a nossa diferença? Ela vai uma vez por ano para algum lugar 05 estrelas, enquanto minha vida é 05 estrelas.
De certa forma, é assim que traduzo o que Carlo Petrini queria dizer com slow food: essa vida onde o que se vive e o que se faz estão integrados com o entorno, onde a observação é mestra, onde a satisfação e confiança são intrínsecos, onde o contato com os elementos resgata as origens...
Meu convite com este texto é que o movimento slow food se espalhe por aí! Que ele sirva para despertar o sabor marcante de uma vida com mais cores, com mais abundância, com mais sutileza, com mais entrega, com mais diversão e que deixe no vivente o desejo de querer mais... A partir deste desejo, lanço o desafio ao passo seguinte: deixar de ser moda e passar a ser base!
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